terça-feira, 27 de maio de 2008

Mulher portadora do vírus HIV sofre mais preconceito.

Pesquisa da UNESP revela que a mulher portadora do vírus HIV sofre mais preconceito e está menos preparada para enfrentar a doença do que o homem.

Até na condição de portadora do vírus HIV a mulher está em desvantagem em relação ao homem. É o que revela uma pesquisa de comportamento, que traçou o perfil de 132 pacientes do Ambulatório Especial da Faculdade de Medicina (FM), da Universidade Estadual Paulista (UNESP), de Botucatu, com indivíduos provenientes de várias regiões do País. O estudo, feito com 82 homens e 50 mulheres, mostra que o sexo feminino, além de sofrer mais preconceitos, enfrenta maior dificuldade para lidar com a doença por causa da sua condição sócio-econômica e pela falta de informação.
O comportamento da família e do companheiro diante da revelação do diagnóstico é um exemplo dos obstáculos que a mulher enfrenta. Na pesquisa, 12% das entrevistadas afirmaram que foram rejeitadas pela família e 10% deixadas pelo companheiro. Enquanto que entre os homens, esta percentagem foi de apenas 3,6% e 1,2%, respectivamente.
Segundo a coordenadora do trabalho, a professora Marli Teresinha Gimenez Galvão, da Faculdade de Enfermagem da FM, o desamparo da mulher é agravado pela dependência econômica e pelo baixo nível de escolaridade. Das 50 entrevistadas, mais da metade (54%) eram donas de casa, contrastando com apenas 8,5% dos homens que não tinham emprego. O abismo também foi grande na avaliação do grau de instrução, pois 68% das portadoras só cursaram algumas séries do 1º grau, enquanto que entre os homens mais da metade (61%) havia chegado ao 2º ou ao 3º grau.
Atitude passiva - Na hora de cuidar da saúde, a mulher também mostrou-se menos preparada do que o homem. Quase a metade das entrevistadas (44%) não fez nada para controlar a evolução da doença, enquanto que entre os homens, esta conduta foi verificada em menor percentagem em 25,6% dos casos. Além disso, os homens são os que mais usam medicamentos, preocupam-se com o equilíbrio emocional, mudam seus hábitos e querem melhorar sua condição física. "Até na procura por tratamentos alternativos, eles têm mais iniciativa", conta a pesquisadora.
Para a professora, o comportamento passivo da mulher pode representar uma tentativa de negar o problema, fato que pode ser agravado pela imaturidade, pois a maioria das entrevistadas era mais jovem do que o sexo masculino. O melhor desempenho dos homens também pode estar relacionado ao fato de que boa parte dos entrevistados era homossexual ou bissexual. "O espírito de luta contra os preconceitos, especialmente dos homossexuais, torna-se um fator positivo na hora de enfrentar a doença", explica.
Conduta sexual - Diante do aumento da proporção de mulheres infectadas no Brasil, a pior constatação, segundo a pesquisadora, foi o fato de que 38% das entrevistadas não faziam nada para evitar a transmissão da doença, enquanto que entre os homens este percentual cai para 10,9% dos casos.
Ela ressalta, entretanto, que o grau de desinformação é significativo em ambos os sexos. Entre as medidas adotadas para evitar o contágio da doença, por exemplo, 40,2% dos entrevistados citaram a camisinha como a principal medida de prevenção. Poucos (13%), no entanto, lembraram que não doar sangue ou órgão também é um meio de evitar a transmissão da AIDS. Por outro lado, as medidas que trariam pouca ou nenhuma prevenção, como não compartilhar talheres, por exemplo, foram freqüentemente citadas.
Para a pesquisadora, a mulher ficou em desvantagem em quase todos os aspectos avaliados na pesquisa. E como se não bastasse o preconceito, o abismo sócio-econômico e a falta de informação, o sexo feminino também não pode contar com a honestidade do parceiro. É que na hora de contar a verdade, um pouco mais da metade dos homens (58,6%) teve a coragem de revelar o diagnóstico à parceira, enquanto que entre as mulheres este índice foi quase absoluto: 82%.

Nenhum comentário: